O movimento doutrinário e religioso, conhecido como “Vale do Amanhecer”, tem dois aspectos distintos, duas maneiras de ser visto: a primeira, é em sua origem remota, o caminho percorrido pelos espíritos que o compõem; e a das circunstâncias que presidiram sua formação atual.
Em primeira instância, trata-se de um grupo de espíritos veteranos deste planeta, todos com 19 ou mais encarnações, juramentados ao Cristo e que se especializaram no trabalho de socorro, em períodos de confusão e insegurança. Tais situações surgem, sempre, no fim dos ciclos civilizatórios, quando a Humanidade passa de uma fase planetária para a seguinte. Esses ciclos, embora variáveis em termos de contagem do tempo, se apresentam à visão intelectual da História como tendo mais ou menos 2.000 anos. A cada dois milênios termina uma etapa e começa outra. Porém, por alguns séculos, as duas fases coexistem. Podemos tomar, como exemplo, o período que antecedeu o nascimento de Jesus e os três ou quatro séculos que se seguiram. Um exame acurado dos acontecimentos históricos registrados explica essa mistura de duas etapas.
O mesmo está acontecendo em nossa época, desde o Século XVIII, em que o mundo como que explodiu em fantásticas conquistas sócio-econômicas, ao mesmo tempo em que começou a declinar no que poderia se chamar de “humanismo”. Esse fenômeno é particularmente verificável neste início do Século XXI, no qual as conquistas científicas, por exemplo, coexistem com a desvalorização progressiva do ser humano. A característica de nossa civilização atual é de descrença e desesperança nas instituições, nos marcos civilizatórios que regem nossas atitudes.
Num paradoxo aparente, essa “morte civilizatória” produz na mente do Homem a ansiedade por bases mentais mais firmes, mais calcadas na imortalidade da civilização. A descrença nas instituições regentes leva à busca de instituições mais biológicas, seguras, mais transcendentais. Isso pode ser facilmente percebido pela procura atual de soluções religiosas e de novas formas do encontro com o espírito, na explosão do esoterismo.
Atender a essa necessidade é exatamente a finalidade e a missão desse grupo de espíritos que aparecem sob a égide do “Vale do Amanhecer”.
Sua missão é oferecer ao Homem angustiado e inseguro uma explicação de si mesmo e um roteiro para sua vida imediata.
Para que isso fosse possível, e a missão cumprida com autenticidade, o trabalho não poderia ser feito seguindo-se as tradicionais formas de religiosidade, as “velhas fórmulas” dos documentos escritos, as revelações de iluminados, de profetas, das tradições, das doutrinas secretas e da dogmática de modo geral, empregada na base da fé e do medo.
O Homem só adquire segurança quando o equacionamento de sua vida se apresenta verificável, para ele individualmente, qualquer que seja sua posição sócio-econômica. Se num primeiro momento as instituições lhe oferecem proteção e segurança, isso logo se desfaz na vivência dentro das mesmas, quando seu próprio juízo entra em contradição com elas. Nesse ponto, ele poderá não se afastar, por medo ou por falta de algo melhor, mas sempre, inevitavelmente, ele viverá em angústia.
Por esse motivo fundamental, o movimento “Vale do Amanhecer” foi calcado na existência de um espírito clarividente, cujas afirmações e ensinamentos pudessem ser testados e verificados, individualmente, pela experiência de cada participante, sem jamais dar margens a dúvidas ou incertezas.
Essa é a origem do Vale do Amanhecer, ou seja, a existência da clarividência de Tia Neiva.
Em 1959, ela era uma cidadã comum, embora com traços de personalidade incomum. Viúva, com quatro filhos, dedicou-se à inédita profissão, para uma mulher, de motorista profissional, dirigindo seu próprio caminhão e competindo com seus outros colegas caminhoneiros. Sem nenhuma tendência religiosa, nunca, até 1959, quando completou 33 anos de idade, revelou propósitos de qualquer liderança.
A partir daquele ano começaram a suceder, com ela, estranhos fenômenos na área do paranormal, da percepção extrasensorial, para os quais nem a ciência nem a religião locais forneciam explicação. O único amparo razoável foi encontrado na área do espiritismo, uma vez que as manifestações se pareciam com a fenomenologia habitual dessa doutrina.
Os problemas foram se acentuando contra a sua vontade, e o acanhamento das concepções doutrinárias dos que a cercavam a levaram a uma inevitável solidão. Não havia realmente quem a entendesse, e isso a obrigou à aceitação das manifestações de sua clarividência. Incompreendida pelos Homens, ela teve que se voltar para o que lhe diziam os espíritos. Só neles ela começou a encontrar a coerência necessária para não perder o juízo e ter-se tornado apenas mais uma doida necessitada de ser internada. A partir daí ela deixou de obedecer aos “entendidos” e se tornou dócil às instruções dos seres, invisíveis aos olhos comuns, mas para ela não só visíveis como também audíveis.
Desde então, ela teve que abandonar parcialmente sua vida profissional e se dedicar à implantação do sistema que hoje se chama Vale do Amanhecer. A primeira fase foi de adaptação e aprendizado, embora, desde o começo, seu fenômeno obrigasse a uma atitude prática de prestação de serviços. Isso garantiu, sempre, a autenticidade da Doutrina do Amanhecer, desde seus primórdios. Tudo o que foi recebido dos planos espirituais se traduziu em aplicações imediatas e foi testado na prática.
Logo que Neiva dominou a técnica do transporte consciente, isto é, a capacidade de sair do corpo conscientemente, deixá-lo em estado de suspensão, semelhante ao sono natural, e se deslocar em outros planos vibratórios, ela começou seu aprendizado iniciático.
O transporte é um fenômeno natural – todos os seres humanos o fazem quando dormem – mas o que há de diferente na clarividência de Tia Neiva é o registro claro do que acontecia, durante o fenômeno, na sua consciência normal. Todos nos transportamos durante o sono, mas as coisas que vemos ou fazemos só irão se traduzir na ação em nossas vidas inconscientemente, ou seja, nós não sabemos que fazemos coisas em nossa vida com base nesse fenômeno.
Nesse período, que durou de 1959 até 1964, ela se deslocava diariamente até o Tibet e lá recebia as instruções iniciáticas de um mestre tibetano. Esse mestre, desencarnado há poucos anos, chama-se, traduzido em nossa linguagem, HUMAHÃ (Umarrã). Dadas as condições específicas que isso exigia de seu organismo físico, ela contraiu uma deficiência respiratória que, em 1963, a levou quase em estado de coma para um sanatório de tuberculosos, em Belo Horizonte.
Após três meses, ela teve alta e deu prosseguimento à sua missão, embora portadora de menor área respiratória, que limitou sua vida física até seu desencarne, em novembro de 1985.
Esse, entretanto, é apenas um aspecto das manifestações de sua clarividência. Ela se transportava para vários planos, tomava conhecimento do passado remoto dela e do grupo espiritual a que pertencia, recebia instruções de Seta Branca e de seus Ministros e as transmitia praticamente para as ações do grupo, que formou uma comunidade na Serra do Ouro, que se chamou “União Espiritualista Seta Branca” (UESB).
Na UESB, no plano físico, o que existia era, apenas, um grupo de médiuns atendendo a pessoas doentes e angustiadas, tendo sempre à frente a figura de Tia Neiva. Havia um templo iniciático e algumas construções rústicas, tudo feito em madeira e palha.
Existia e existem, pois, dois aspectos distintos, que é preciso compreender para explicar o fenômeno “Vale do Amanhecer”: o humano, como grupamento de pessoas dedicadas à assistência espiritual a outras pessoas, mediante as normas trazidas pela Clarividente Neiva do plano espiritual; e essas mesmas normas, que foram constituindo a Doutrina, ou seja, um conjunto doutrinário.
Na proporção em que o conjunto humano crescia, ele aumentava seu poder de obtenção, controle e manipulação de energias, ou seja, sua força crescia e se ampliava sua base doutrinária. Por isso a Doutrina do Amanhecer apresenta um aspecto dinâmico, de contínuo fazimento, que se adaptava, a cada momento, às necessidades dos seres humanos que são atendidos. Todas as instruções para as atitudes, construções, rituais e planos de trabalho continuaram vindo por intermédio de Tia Neiva.
Com o desencarne de Tia Neiva, ajustes e correções ficaram sob a responsabilidade do Primeiro Mestre Jaguar, Trino Arakém, Nestor Sabatoviks. O ciclo atual está preste a terminar, o mundo irá passar por grandes transformações, que já se tornam evidentes ao senso comum e, naturalmente, os responsáveis pelo comando da missão do Vale do Amanhecer – Pai Seta Branca e seus Ministros –, já têm planos para pronta aplicação pelo mestrado.
O atual Vale do Amanhecer
A primeira comunidade funcionou na Serra do Ouro, próximo da cidade de Alexânia, Goiás. De lá mudou-se para Taguatinga, cidade satélite de Brasília, e, em novembro de 1969, foi instalada no atual local, que passou a se chamar Vale do Amanhecer, na zona rural da cidade satélite de Planaltina.
O Vale ocupa uma área pertencente ao Governo do Distrito Federal, nela residindo cerca de 5.000 pessoas, em sua maioria famílias carentes, e que professam diferentes crenças e religiões, já contando com templos católicos, evangélicos e de outras linhas, bem como com bares onde servem bebidas alcoólicas, o que contraria as normas da Doutrina.
Dentre os residentes estão dirigentes da Doutrina do Amanhecer, algumas famílias de médiuns, os que participam da manutenção, do atendimento de emergências no Templo e ocasionais abrigados para tratamento de alcoolismo. Conta, também, com assistência a crianças e adolescentes, nas atividades do “Projeto Casa Grande de Tia Neiva” e de grupos de mestres que se dedicam a essa missão.
O ponto focal da comunidade é o Templo do Amanhecer, construído em pedra, no formato de uma elipse, com uma área coberta de 2.400 metros quadrados. Distante cerca de 300 metros, existe um conjunto iniciático, construído a céu aberto, chamado Solar dos Médiuns ou Estrela Candente. Nele existem cachoeiras artificiais, um espelho d’água em forma de uma estrela, com raio de 79 metros, lagos, escadarias de pedra e lanchonetes. O conjunto se completa com o Lago de Yemanjá, onde existem as cabalas das 7 Princesas, em que se realiza o Quadrante, uma Lança de Yemanjá e uma Pirâmide.
O Templo do Amanhecer destina-se ao atendimento do público. O trabalho abre, de 2ª feira a sábado, às 10 horas da manhã, e se prolonga até às 10 horas da noite, com plantões chamados de Retiros. O Solar dos Médiuns – a Estrela Candente, funciona todos os dias, com início às 12 horas e 30 minutos, com mais duas consagrações: às 14h 30 e 18h 30.
Há, diante do Templo, uma área reservada ao trabalho de Estrela Sublimação, onde o ritual se faz diariamente às 16 horas, exceto no domingo, quando se realiza às 20 horas, havendo atendimento ao público.
O Vale dispõe de esgoto e água encanada, eletricidade e linhas de ônibus que o ligam a Planaltina, distante 6 km, e ao Plano Piloto, além de numerosas vans. Possui uma escola primária, dirigida pela Secretaria de Educação do GDF, hotéis e pousadas, restaurantes e lanchonetes, oficinas mecânicas, salões de costura, supermercados, comércio, locadoras de vídeo, e posto da Polícia Militar.
As atividades diárias do Vale são muito intensas, o dia de trabalho se encerrando altas horas da noite. Para o visitante que vem pela primeira vez, o aspecto é de contraste entre a aparente calma do local e a intensa atividade desenvolvida para amainar o sofrimento dos que, diariamente, procuram o Vale, além do impacto visual de formas e cores, principalmente pelas indumentárias de mestres e ninfas, como são denominados os homens e as mulheres que trabalham nos diversos setores.
De 2ª feira a sábado, às 9h 45 da manhã, uma sirene toca três vezes, convocando para a abertura do Retiro dos Médiuns, obedecendo a uma tradição que é mantida desde 1959. Os que participam do Retiro nesse dia permanecem em plantão até cerca de 10 horas da noite. Cada dia, entretanto, é diferente dos outros. Aos domingos, sempre há programação intensa de instrução e desenvolvimento. Certos dias, principalmente nos fins de semana, vários acontecimentos ritualísticos são executados simultaneamente. Tanto pode acontecer um casamento solene, uma cerimônia de Iniciação, uma festa de aniversário como um velório iniciático por algum médium que tenha desencarnado. Isso, entretanto, sucede sem interrupção do atendimento dos pacientes. Há, também, atendimento aos casos urgentes, que são levados fora do horário normal, principalmente nas madrugadas, e quando, pelo toque da sirene, são convocados médiuns para seu atendimento.
No Vale só existem duas classes de pessoas: Médiuns e Pacientes, sendo essa a maneira mais simples de conceituar as pessoas sem incorrer no perigo da discriminação.
Médium é a denominação do antigo paciente que, devido a seus compromissos transcendentais, sentiu necessidade de desenvolver sua mediunidade e participar da Corrente, ou seja, trabalhar mediunicamente. Na verdade, eles representam, apenas, a média de ½% dos freqüentadores, ou seja, dentre cada grupo de 200 pessoas que procuram o Vale, apenas uma tem necessidade de desenvolver sua mediunidade.
Antes do desencarne de Tia Neiva, após o último cliente se retirar, surgia sempre alguma atividade instrutiva, uma comunicação dos planos espirituais ou uma discussão doutrinária em torno da Clarividente.
Com exceção dos Retiros, da Estrela Sublimação e das Escaladas na Estrela Candente, cujos horários são rígidos, não existem horas marcadas para as coisas que acontecem. As atividades flutuam ao sabor dos acontecimentos. Durante o dia inteiro chegam pessoas em busca de auxílio, cuja natureza varia ao infinito. Os dias típicos que mais caracterizam a vida no Vale são os chamados dias de Trabalho Oficial, às quartas, sábados e domingos. Nesses dias, chegam a trafegar no Vale entre 3 e 4 mil pessoas.
O Trabalho Oficial começa à 10 horas, com a abertura da Corrente. A partir daí, os médiuns vão se colocando nos seus postos de serviço, na medida em que vão se mediunizando, ou seja, que completam os seus rituais e se sentem prontos para o atendimento. As portas do Templo permanecem abertas e os pacientes vão sendo acomodados nos bancos de pedra, que correm ao longo do Templo, no lado esquerdo de quem entra. O primeiro contato é com os médiuns da Falange dos Recepcionistas. Eles, discretamente, vão acomodando os pacientes e movimentando as filas. Os pacientes sentam e levantam, e vão se aproximando dos Tronos, onde é feito o atendimento individual. Todo o atendimento começa pelos Tronos.
Os Tronos são pequenas mesas, com apenas um lado disponível, onde se sentam o Apará (médium de incorporação) e o paciente. Atrás do Apará, permanece de pé o Doutrinador. Este, cuja mediunização torna seus sentidos mais alertas (ao contrário do Apará, que fica semiconsciente), é o responsável por tudo que decorrer no atendimento. Ele acompanha o trabalho do Preto Velho ou do Caboclo, esclarece o paciente, doutrina os sofredores que o Preto Velho puxa do paciente e garante, ao máximo possível, a satisfação do atendido.
O Apará incorporado permanece com os olhos fechados e apenas entra em contato com o paciente segurando levemente suas mãos ou tocando, na sua cabeça, com a ponta dos dedos. Conforme o médium ou a entidade-guia, a linguagem pode ser pouco inteligível para o paciente. Isso, entretanto, não é de muita importância, uma vez que a vocalização é apenas a maneira da entidade entrar em sintonia com o paciente. Quando se torna necessário um conselho ou indicação, o Doutrinador serve de intérprete. Na verdade, o importante não é o que a entidade fala, mas, sim, o que ela faz durante o atendimento. É a manipulação de energias que irá resolver os problemas do consulente, podendo suceder que nem ele saiba, às vezes, quais são eles. Por isso, a comunicação é secundária, principalmente pelos perigos que encerra, devido às possíveis interpretações errôneas ou previsões falhas.
O freqüentador do Vale do Amanhecer acaba por se habituar a avaliar a autenticidade do trabalho pelo resultado, fato esse de que só ele pode ser o juiz. Se ele chega tenso e cheio de cargas negativas, o Preto Velho as atrai para o Apará. O médium recebe essas cargas e, devido à natureza dessas energias e sua localização no seu plexo solar, ele se contrai. O quadro dessa incorporação é o do médium com o rosto contraído, as mãos crispadas e, às vezes, falando em tom agressivo. Isso tanto pode significar que ele está recebendo a carga magnética do cliente como algum espírito sofredor, um desencarnado ou um obsessor.
Qualquer que seja a situação, o Doutrinador faz sua doutrina e, mediante uma chave iniciática, faz a entrega a outro plano, outra dimensão. O médium, então, volta para sua incorporação suave do Preto Velho ou à expressão do Caboclo.
Conseguido o reequilíbrio do tônus do paciente, a entidade sugere seu encaminhamento para outros trabalhos no Templo, dá-lhe algum conselho ou palavra de encorajamento, sugere sua volta ou lhe delineia algumas sugestões para equilibrar sua vida. Nunca, porém, interfere no seu livre arbítrio ou toma alguma decisão por ele.
Nesse atendimento, o paciente recebe várias indicações: vai para a Sala de Cura se tiver algum distúrbio físico; para a Indução se seu problema for de ordem econômica, puramente de situação material; ou apenas para a Linha de Passes se não tiver problemas dessa natureza.
A “cura”, em termos da Doutrina do Amanhecer, não envolve diagnóstico ou receita de remédios. Nada ali é feito que possa ser resolvido pelo médico terreno. Em todos os casos, sempre se aconselha que o paciente continue com seu médico ou com o tratamento que porventura esteja fazendo. Nossa cura é puramente espiritual, na área invisível do paciente, que é inacessível ao médico físico.
Se o paciente apresenta sintomas de mediunidade excessiva ou aflorada, é aconselhado o seu desenvolvimento, porém sempre é chamada sua atenção para que isso tanto pode ser feito aqui como em qualquer outro lugar ou doutrina de sua preferência.
De modo geral, o atendimento se caracteriza pela descontração e informalidade. O paciente entra e sai à vontade, ninguém lhe pede coisa alguma e ele só sai de sua incógnita se assim o desejar. Só tem que declinar seu nome e sua idade na hora de ser atendido pela entidade incorporada no médium. Tanto os médiuns como os dirigentes preferem ignorar o problema pessoal de cada um, e só se interessam pela natureza do problema. De qualquer forma, qualquer que seja a natureza do problema, o paciente deve começar a ser atendido nos Tronos, onde o Preto Velho irá fazer sua limpeza vibracional e encaminhá-lo ao setor adequado.
Na verdade, a técnica empregada no atendimento dispensa a confidência da pessoa. O trabalho de passa numa outra dimensão, que é invisível aos sentidos até mesmo dos médiuns. Mesmo a conversa das entidades, incorporadas no médium, escapa, em grande parte, aos seus ouvidos ou à sua percepção, embora ele não esteja realmente inconsciente. O diálogo é necessário para manter a sintonia entre o paciente e a entidade. Enquanto o Preto Velho conversa, ele está, na verdade, manipulando energias e resolvendo problemas da pessoa que, às vezes, nem ela suspeita que tem. Em alguns segundos do relógio, a entidade percorre os ambientes onde a pessoa vive, verifica problemas de suas outras encarnações, atende a pessoas que lhe são queridas, não importa a distância física onde estiverem, e faz até mesmo sua caridade para os inimigos do atendido.
O ponto alto desse trabalho é que o paciente não assume compromisso algum, nem mesmo de se tornar adepto da nossa Doutrina. A confiança surge progressiva e lentamente, após os resultados obtidos, e é por isso que os pacientes do Vale, em sua maioria, acabam por voltar outras vezes e se tornam amigos e até entram na Doutrina.
Os pacientes do Vale são de todas as classes sociais. Alguns vêm apenas para visitar ou por curiosidade. Outros, gostam de pesquisar. Porém, muitos, talvez a maioria, vêm em busca de algo que falta em suas vidas. Todos se sentem à vontade, uma vez que nada lhes é solicitado, pois não têm obrigação alguma. Os médiuns, esses sim, têm sempre a obrigação de fazerem tudo que for possível pelos que procuram o Templo. Não se concebe uma pessoa sair do Vale sem ter sido atendida ou sair insatisfeita. É lógico que o Vale não faz milagres, nem resolve todos os problemas das pessoas, mas sempre abre uma esperança, alivia uma dor e amplia as perspectivas daqueles que o procuram.
As técnicas empregadas no Vale
Todo o trabalho do Vale é com base na técnica de manipulação de energias. A força que permite controlar as energias de origens e teores diversos é a mediunidade. A força mediúnica é alimentada pela energia animal, produzida no organismo, chamada ectoplasma, fluido ou magnético animal.
Trata-se de uma energia sutil, que todos os organismos da Terra produzem, mas que, no ser humano, atinge teor diferente, quantidade elevada e cuja propriedade fundamental é a de colocar em contato dois planos vibracionais diferentes, duas dimensões.
É, portanto, o ectoplasma o responsável pelos contatos entre o mundo sensorial e palpável com os outros planos da vida, normalmente imperceptíveis aos sentidos. Por se tratar de energia produzida à revelia da vontade, os efeitos que ela produz nos atos humanos independem da crença, religião ou posicionamento no meio social.
O desconhecimento desse fato simples e biológico, ou a sua conceituação inadequada, está na raiz da maioria das dificuldades humanas, sendo, como é, a maior fonte de dor, qualquer que seja sua natureza.
O médium é uma pessoa que admite e conhece essa energia pela experiência, e procura se habilitar para a controlar conscientemente. Com isso, ele aprende que o Homem alivia muito seu sofrimento quando conhece suas forças.
Na primeira fase, o novato – ou aspirante – desenvolve sua mediunidade para obter seu equilíbrio pessoal, para se colocar numa posição de harmonia com o mundo que o cerca. Uma vez conseguido isso, ele é credenciado para o atendimento, o qual, na verdade, é apenas a continuação do seu desenvolvimento. Quanto mais o médium trabalha, mais ele aprende e melhor fica conhecendo como usar suas energias. O progresso constante lhe concede consagrações que lhe trazem sua realização pessoal.
Consideradas apenas pelo aspecto biopsicofísico, as energias são chamadas de “cristãs” ou “forças da Terra”. O conhecimento desse fato remonta à mais longínqua antigüidade, e é simbolizado pela figura de um felino como, por exemplo, a figura que existe bem no centro da travessa superior da misteriosa Porta do Sol, nos altiplanos dos Andes. Essa figura do jaguar é a mesma adotada pelo Vale do Amanhecer, cujos médiuns são chamados de “Jaguares”.
Em contraposição das “energias cristãs” existem as “energias crísticas”, ou seja, a manipulação feita com o terceiro pólo do ser humano – o espírito – e não apenas com as forças psicofísicas.
No conjunto, as energias crísticas e as energias cristãs formam múltiplos de 7, sendo chamadas de “positivas” ou “negativas”. Porém, essas classificações não se referem à idéia de Bem ou de Mal.
Negativas, no caso, são as energias que, a partir da superfície, atuam como fio terra; positivas são aquelas que partem dos planos vibracionais mais sutis. O ser humano equilibrado é aquele que mantém a proporção certa de energias negativas e positivas. Enquanto o espírito ainda está na Terra, isto é, ele é um espírito encarnado, um homem comum, ele tem 3 forças positivas e 4 negativas. Isso quer dizer que sua tônica está na vida da Terra, no plano da economia planetária. Se ele inverter essa posição, sublimar uma delas, ele passa a ser um ser humano “desligado”, desequilibrado em relação às leis do mundo físico.
Esse conhecimento técnico é que permite aos médiuns a capacidade de curar, isto é, de equilibrar ou reequilibrar a pessoa, de acordo com os planos da natureza e dessa mesma pessoa.
A filosofia básica do Vale
A idéia mais simples e mais de acordo com a realidade que se pode ter do Vale do Amanhecer, é a de que se trata de um grupo humano, de pessoas comuns, as quais, mercê de suas dores e da busca de um lenitivo para elas, decidiram trabalhar para si e para seu próximo, baseadas nas exortações do Mestre Jesus, resumidas numa série de conceitos sob o título de “Doutrina do Amanhecer”, que é também chamada de “O Evangelho do Vale do Amanhecer”.
Para que não haja a mínima dúvida quanto a essa Doutrina, os ensinamentos do Mestre são colocados de forma acessível a qualquer mente, independente de cultura intelectual ou escolaridade.
A Doutrina do Amanhecer se resume em três propostas básicas de Jesus: o amor, a tolerância e a humildade. Com essas três posições, é possível a qualquer ser humano reformular sua existência, adquirir visão mais ampla da vida e equacionar seus problemas desta Terra.
Alicerçada neste triângulo, a Escola do Caminho, do Mestre Jesus, permite compreender e analisar tudo que se passa em nosso mundo, e abrir caminho para as soluções da vida. A primeira resultante dessa filosofia básica é que a verdade só é percebida individualmente, por cada pessoa. Logo, o mundo não é como é, mas, sim, como cada pessoa o vê.
Essa posição é diametralmente oposta aos conceitos vigentes nas bases da fase atual de nossa civilização, cuja posição é a de que o mundo é como é e não como nós o vemos.
Por essas duas maneiras de ver, pode-se conceituar as coisas e as pessoas. No primeiro caso, o mundo e o universo estão de acordo com o dimensionamento da consciência do observador, e ele está em paz com o quê o cerca.
No segundo caso, o homem vive em angústia, porque não tem certeza de nada que o cerca e vive em desacordo com a realidade, porque supõe que o mundo é algo diferente daquilo que registra. Nessa posição, o Homem é inteiramente dependente do que lhe é dito e ensinado. Logo, ele não tem individualidade, sendo, apenas, uma parte do coletivo. Na sua mente predomina a personalidade padronizada.
Para que essa posição crística possa ser entendida, sem restar margem a dúvidas, o Vale ensina que o ser humano, o Homem, toma suas decisões com base nos estímulos, que partem de três diferentes fontes, existentes em si mesmo: a física, a psicológica e a espiritual.
Resumindo: o Homem é composto de corpo, alma e espírito, separando objetivamente a idéia de alma (psique) da idéia de espírito.
Tais conceitos podem ser encontrados mais detalhadamente nos livros publicados sob a responsabilidade da Ordem Espiritualista Cristã, entidade jurídica que rege o Vale do Amanhecer, particularmente “No Limiar do Terceiro Milênio” e “Instruções Práticas Para os Médiuns”, sendo este último publicado em fascículos.
A missão do Vale
O Vale do Amanhecer tem um programa de trabalho no qual podem ser distinguidos dois aspectos fundamentais: o atendimento direto, físico, pessoal e, por outro lado, a influência indireta, à distância.
No primeiro caso estão os Templos físicos que, além do Vale do Amanhecer, em Planaltina, já existem em outros lugares, não só no Brasil como já no exterior, já superando 450 pontos de atendimento.
No segundo caso, no que pode ser chamado de “atendimento indireto”, está o acervo de quase dois decênios de contínuo atendimento, com milhares de pessoas que equilibraram suas vidas nos Templos do Amanhecer, e de obras publicadas. Essas pessoas e os livros vão levando uma mensagem de esperança e ajudando na formação de idéias e perspectivas do ser humano mais coerentes com a realidade, que explicam o Homem para si mesmo, despertando-lhe o interesse pela Vida e não para a Morte. A Doutrina do Amanhecer não trabalha somente para ajudar a pessoa para o após morte; ela trabalha para ajudá-lo a viver conscientemente a vida.
Com esse propósito, e com base no preceito de Jesus do não julgamento, o Vale não preconiza forma alguma de comportamento, mas aceita a pessoa como ela é, sem discriminação. Quanto pior for a situação do paciente, tanto em relação a si mesmo como ao meio em que vive, maior é a sua necessidade de ser recebido com amor e tolerância. Só essa aceitação, sem julgamento, sem críticas e sem recriminações, é que podem permitir o reequilíbrio do Homem. Só o amor pode despertar a capacidade de amar e só a tolerância irrestrita abre a oportunidade de um ser humano se encontrar. Para que o amor e a tolerância sejam possíveis concretamente, é necessário haver humildade, sem, naturalmente, confundir-se humildade com humilhação.
Por isso, o Vale é simples nas suas pretensões, sem querer reformar o mundo ou se achando o dono da verdade. Para que essa posição possa ser autêntica, emprega-se uma forma hábil de trabalho: como já foi dito anteriormente, ali só existem duas qualidades de gente – ou pacientes ou médiuns. O Vale nada tem a ver com as pessoas fora do recinto, sejam elas médiuns ou pacientes. Porém, uma vez adentradas, as pessoas são convidadas a tomar uma ou outra posição. Se ela é médium da Corrente, fica obrigada a seguir os rituais e a atender a quem quer que seja, nada podendo aceitar em troca. Se ela é paciente, tem o direito de ser atendida e nada fica a dever, nem sequer a obrigação de se tornar adepta da Doutrina.
A única coisa que é exigida dos médiuns é a abstenção do álcool e das drogas, mesmo fora do recinto, condição essa indispensável para ele praticar seu mediunismo no Vale.
Origem remota do Vale do Amanhecer
Há 32.000 anos – trezentos e vinte séculos atrás – , uma frota de naves extraplanetárias pousou na Terra, e dela desembarcaram homens e mulheres, duas ou três vezes maiores do que o tamanho médio do Homem atual. Sua missão era a de preparar o planeta para futuras civilizações. Para isso, mudaram a topografia e a fauna, trouxeram técnicas de aproveitamento dos metais, além de outras coisas essenciais para aquele período e os que se seguiram.
Chamavam-se Equitumans, e seu domínio do planeta durou 2.000 anos. Depois disso, o núcleo central desses missionários foi destruído por uma estranha catástrofe, e a região em que viviam se transformou no que hoje se chama Lago Titicaca.
No livro “2000 – Conjunção de Dois Planos”, os Equitumans são descritos com mais detalhes pelo Mestre Mário Sassi.
Depois disso – de 30 a 25 mil anos – existiram outros missionários, que se chamaram Tumuchys. Esses eram predominantemente cientistas, que estabeleceram avançada tecnologia, cujo principal objetivo era a captação de energias planetárias e extraplanetárias. Foram esses cientistas que construíram as pirâmides, ainda existentes em várias partes da Terra, incluindo as do Egito. Esses e outros monumentos megalíticos foram construídos de acordo com um planejamento para todo o planeta.
Posteriormente, esses gigantescos edifícios foram utilizados pelos povos que vieram depois, com outras finalidades. E os métodos científicos se transformaram em tabus e religiões. Mas, a energia armazenada até hoje se conserva, preenchendo os propósitos a que foi destinada.
Depois dos Tumuchys – entre 25 e 15 mil anos atrás – vieram os Jaguares. Estes foram os manipuladores das forças sociais que estabeleceram as bases dos povos e nações. Mais numerosos que os Equitumans e os Tumuchys, eles deixaram suas marcas em todos os povos, e é por isso que a figura desse felino aparece em tantos monumentos antigos.
Aos poucos, esses espíritos foram deixando para trás essas identificações, e foram nascendo em meio aos povos e nações que eles haviam ajudado a criar. A partir daí, podemos entrar na História e identificar, razoavelmente, as civilizações que se seguiram até nossa época. Nomes como chineses, caldeus, assírios, persas, hititas, fenícios, dórios, incas, astecas, gregos, etc. já nos são familiares pela História.
Nessas raças e povos, através de milhares de anos, esses experimentados espíritos acabavam, sempre, ocupando posições de mando e se destacavam como reis, nobres, ditadores, cientistas, artistas e políticos.
Nessa movimentação gigantesca, no tempo e no espaço, podemos traçar as origens mais próximas dos espíritos que, hoje, fazem parte da missão chamada Vale do Amanhecer, a partir dos hititas, depois os jônios e os dórios. Mais tarde, vamos encontrá-los em Esparta, Atenas, Egito e Roma. Principalmente em Esparta e na Macedônia, teve início o percurso que se poderia chamar a “Era Moderna” dos Jaguares.
A partir dessa origem, os destinos dos Jaguares foram convergindo para a Era de Peixes, para o nascimento de Jesus. Aqueles que eram da falange do Jaguar, que no século XVI tomou o nome de Seta Branca, fizeram seu juramento e iniciaram sua nova fase, agora sob a bandeira de Jesus e sua Lei do Perdão.
Jesus inaugurou a fase de redenção cármica do Sistema Crístico, chamada Escola do Caminho, e, desde então, esse grupo de Jaguares passou a agir de acordo com ela.
Assim, no decorrer desses mais de vinte séculos, os ciclos civilizatórios têm sido orientados no sentido da redenção, do ressarcimento e do retorno dos espíritos para sua origem, a caminho de Deus.
A partir dessa idéia, as guerras, as catástrofes e os desenganos passaram a ter um sentido, uma razão de ser, servindo como escola e liça de treinamento para os espíritos, individualmente. Com Jesus nasceu a abertura para a individualidade, onde, antes, só havia caminho para a personalidade.
Na Escola do Caminho, o artista é mais importante que o personagem que ele representa. Isso explica porque a visão do mundo só é válida em termos do indivíduo, e não de acordo com padrões condicionadores.
As encarnações são como papéis, em peças previamente escritas e ensaiadas. Cada artista tem seu papel e seu desempenho: pode melhorar ou piorar a cena. A peça torna-se boa ou má, de acordo com o conjunto do desempenho. E, como no teatro, também o público tem o seu papel, pois não se concebe representação sem público.
Cada peça tem sua mensagem, e o artista é considerado bom ou não, de acordo com sua capacidade de contribuir para que ela seja perfeita.
Assim, dentre as muitas peças apresentadas no palco da vida, nesses 2.000 anos, surgiu a estória da escravidão e o nascimento da didática dos “Pretos Velhos”.
Os Jaguares da falange que hoje compõem o movimento do Vale do Amanhecer, são espíritos evoluídos, que já ocuparam personalidades importantes entre os Equitumans, Tumuchys e Jaguares. Na sua maioria, foram líderes nas ciências, nas artes, nas guerras e na direção dos povos e nações. Isso os tornara orgulhosos e soberbos, e, como conseqüência, eles haviam se endividado muito. Surgida a Era de Jesus, teriam que passar pelo crivo da Humildade, da Tolerância e do Amor, como, aliás, todos os espíritos que iriam compor a humanidade desses dois milênios. Mas, para eles, habituados às lideranças, seu papel teria que ser de destaque.
E assim aconteceu...
Portugal dominava os mares, nos séculos XV e XVI. Seus navios singravam as águas dos continentes, e iam deixando colônias onde acostavam. Dessas colônias, em países considerados exóticos pelos europeus, iam para a Europa as mercadorias especiais, as “especiarias”. Com essas mercadorias vieram, também, os escravos.
Os europeus estavam habituados, desde tempos remotos, com a idéia da escravidão de prisioneiros de guerra ou devedores de dinheiro. A idéia do escravo pela simples escravização existia, nessa época, mais na África e no Oriente.
Com a vinda dos primeiros escravos negros importados, nasceu sua comercialização, que se tornou importante na Era dos Descobrimentos. No decorrer dos anos, a escravidão se tornou uma instituição, um hábito normal de vida, aceito, inclusive, pelas religiões.
Assim era quando o Brasil foi descoberto.
Pouco depois do descobrimento, já começaram a vir os primeiros escravos para a lavoura de cana de açúcar. Esse comércio durou até 1888.
Para a História, a escravidão ficou registrada como apenas um episódio, às vezes chamado de “mancha negra da História do Brasil” ou como resultante dos fatos econômicos da época.
Para o plano espiritual, a escravidão foi, na realidade, o movimento redentor, a grande prova dos espíritos missionários, dos endividados, dos orgulhosos, pois tinha o mais profundo sentido iniciático: a morte, a eliminação da personalidade, com isso obrigando a emersão da individualidade. Como no teatro, em que, às vezes, o artista sobrepõe-se ao personagem, certo número de escravos lançou as bases da etapa final da Escola do Caminho, criando raízes na religiosidade brasileira.
Dentre esses escravos estavam um sem número de Jaguares que, por sua vez, haviam sido Equitumans e Tumuchys. Dois velhos líderes se destacaram, dois espíritos excelsos que, na qualidade de missionários, se submeteram à difícil prova, duas individualidades brilhantes que representaram os personagens Pai Zé Pedro e Pai João. Nos 372 anos que durou a escravidão no Brasil, eles foram escravos em duas reencarnações.
A escravidão tinha o mais profundo sentido iniciático: a morte, isto é, a eliminação da PERSONALIDADE e o conseqüente nascimento, ainda na Terra, da INDIVIDUALIDADE. A pessoa humana perdia sua identidade ao ser escravizada, ou já nascia sem ela, se nascesse filha de escravo.
A conseqüência doutrinária desse fato é de grande importância: não podendo impor as exigências do corpo e da alma, o escravo era praticamente obrigado a ceder às exigências de seu espírito.
Daí nascerem as práticas mediúnicas entre os escravos no Brasil.
Numa primeira encarnação, Pai Zé Pedro e Pai João eram escravos vindos da África. Como bons missionários, foram os primeiros a sentir na carne os rigores da dolorosa experiência encarnatória.
Ao envelhecer e serem considerados pelos seus senhores como inúteis, ele, aproveitando a nostalgia natural dos seus companheiros de escravidão, criaram a prática dos “encantos”.
Esses tradicionais espíritos de grandes chefes, agora reduzidos às figuras de míseros escravos, tinham, também, pertencido a civilizações em que praticamente não se utilizara a escrita no cotidiano. As ordens eram transmitidas e recebidas pelo som, pelo comando da voz, pelas senhas secretas, pela magia vibratória. Suas memórias estavam treinadas, nesses milhares de anos, pela gravação dos fatos narrados, cantados, expressos pelo som. Quando o som não se tornava possível, a comunicação era pelo gesto, pela mímica.
E assim os escravos se comunicavam, davam vazão aos anseios de seus espíritos, pelo gesto, pela dança, pelos cânticos e pelos gemidos...
O instrumento mais simples e mais prático foi o atabaque.
Pai João sentava-se num toco e tocava seu atabaque. Seu som cadenciado ia formando os mantras – sons transcendentais –, que se espalhavam misteriosamente nas florestas e nas almas dos homens.
E assim, lentamente, através do enredo dramático, num palco privilegiado adrede preparado, chamado Brasil, foram nascendo os chamados cultos afro-brasileiros.
Como espíritos veteranos deste planeta e integrantes da missão do Cristo Jesus, Pai João e Pai Zé Pedro eram possuidores da necessária bagagem mediúnica e iniciática que lhes facilitava a tarefa.
Embora pertencentes a fazendas distantes uma da outra, eles se transportavam e conversavam entre si. Pai João, mais habituado que Pai Zé Pedro aos reinados e comandos, era o executivo. Pai Zé Pedro, mais místico, executava a Magia.
E foram acontecendo coisas extraordinárias nas relações dos escravos com seus senhores. A História do Brasil está cheia de lances emocionantes que envolveram não só os escravos como, também, os brancos. É preciso lembrar que nem todos os espíritos a serem redimidos haviam nascido como escravos. Todos, porém, tinham uma parte no enredo, todos participavam, de uma forma ou de outra, do gigantesco drama cármico.
Enquanto isso, as práticas de Magia, os cultos misteriosos e mediúnicos, iam se desenvolvendo entre os escravos, em muitos aspectos envolvendo, também, os brancos senhores. Sob a orientação dos Mentores e a execução de espíritos missionários encarnados, surgiram as práticas religiosas miscigenadoras.
Mais tarde, Pai João e Pai Zé Pedro voltaram em novas encarnações, ainda como escravos, mas, desta vez, nascidos na Índia. A partir desse retorno as práticas foram evoluindo, agora com o lastro místico da Índia e do Tibet. Nasceu a mediunidade iniciática e, com ela, a passagem de espíritos sofredores, a redenção mediúnica.
Os cultos foram se misturando e fazendo parte de uma sociedade brasileira ainda incipiente. Na Europa do Século XIX, nascia o Espiritismo de Kardec e as práticas se misturavam com o catolicismo oficial.
Essa é a razão da dificuldade na separação das raízes dos cultos no Brasil. Os historiadores nunca vão encontrar uma linha pura e com sua origem determinada.
Mas, no mundo espiritual, os planos prosseguiram com naturalidade, objetivamente. Enquanto os conflitos sociais agitavam a superfície dos males da alma e do corpo, o espírito prosseguia tranqüilo nas suas tarefas de reajustes. Nesse período surgiu o episódio das Princesas de Mãe Yara, reunidas na Cachoeira do Jaguar.
Havia sete espíritos de mulheres que haviam participado ativamente de muitas encarnações dos Jaguares. Numa dessas encarnações, elas haviam morado na mesma cidade de Pompéia. Essa cidade do império romano tinha sido um balneário, cidade recreio dos ricos romanos e, no período de decadência, se transformado em uma cidade cheia de vícios.
Um dia, houve uma erupção de um vulcão, o Vesúvio, e Pompéia ficou coberta de cinzas. As sete moças morreram nessa tragédia e seus espíritos permaneceram no recolhimento e na revolta. Depois disso, elas encarnaram várias vezes, até atingir a evolução.
Mas, elas conservavam, ainda, os resíduos de seus compromissos, assumidos na vida leviana que haviam tido anteriormente. Com isso, elas foram incluídas no plano redentor da escravidão. Seis delas nasceram como filhas de escravos e uma numa família de colonizadores portugueses.
Embora não se conhecessem, pois viviam em fazendas diferentes, elas tinham um traço em comum: não se adaptavam, não aceitavam a sua condição de crioulas escravas. A sétima moça, aquela que havia nascido como branca, também era inconformada com a vida daquele Brasil Colônia e, sempre que podia, procurava a senzala, para conviver com as escravas.
Uma a uma, as crioulas foram fugindo de suas senzalas e, orientadas pelo plano espiritual, foram se encontrando numa determinada região. Nesse lugar havia uma cachoeira que escondia um ponto da floresta de difícil acesso, e lá elas estabeleceram seu lar.
Pai João e Pai Zé Pedro, com o conhecimento da missão reservada para aqueles espíritos missionários, encobriam, com suas astúcias de velhos escravos, a escalada das crioulas. A branca e loura sinhazinha, estimulada pelos velhos laços espirituais, também buscou a companhia das crioulas. Certo dia, ela apareceu num barco e trouxe consigo uma enorme bagagem de objetos e alimentos. E, assim, a falange ficou completa.
A região da cachoeira das crioulas passou a ser um local de encontro de escravos e escravas, que buscavam o lenitivo para sua vida de dores e sofrimentos. Os pretos velhos montavam guarda e usavam todo seu conhecimento da Magia para que os planos tivessem prosseguimento. Os atabaques percutiam nas noites
Sobre o Blog
Blog sobre o Vale do Amanhecer, Doutrina concebida pela Espiritualidade Maior e executada por Neiva Chaves Zelaya, um Espírito de Luz Altíssima, conhecido nos Planos Superiores por Agla Koatay 108. O Vale recebe pessoas sem distinção para solução de problemas espirituais. Nada cobra de seus pacientes e nem exige frequência. Temas espirituais diversos são tratados aqui. Vicente Filgueira, Adjunto Esdalvo - Jornalista (Registro Profissional Fenaj 274/03/38§ v/DRTGo-01364-SJP)
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